sexta-feira, 5 de junho de 2009

O virtual e o hipertextual



PARENTE, André. O Virtual e o Hipertextual. Rio de Janeiro: Pazulin, 1999. 112 p. (ilustr.)

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p. 13
"Não há objeto puramente atual. Todo atual rodeia-se de uma névoa de imagens virtuais." (Gilles Deleuze)

p. 17
"Ernst Gombrich mostrou muito bem que entre a representação e a realidade externa só há ilusão".
/
"uma experiência parecida com a que teríamos se os tocássemos com mãos invisíveis."

p. 18
"Toda arte produz algum nível, uma ilusão referencial que depende da fé perceptiva do espectador, ou, o que dá no mesmo, de uma voluntária suspensão da incredulidade."
/
"Li Ssu-hsûn (652-720 d.C) pintou os paraventos do palácio do imperador com cenas representando montanhas e cascatas. Um dia, o imperador se queixa ao pintor: "as cascatas que você pintou fazem muito barulho e não me deixam dormir, por favor, faça alguma coisa"."

p. 19
"são tudo o que se queira, e muitas outras coisas. Tudo depende da disposição do analista."

p. 20
"Se a imagem em movimento é uma ilusão de movimento, como distinguir a percepção do movimento aparente da percepção do movimento real?"
/
"o movimento real não é senão um caso particular do movimento aparente?"

p. 21
"As novas tecnologias da imagem suscitam o seguinte problema: se por um lado elas nos empolgam ao pôr em crise o sistema de representação, uma vez que, com o simulacro, não se pode mais distinguir o falso do verdadeiro, a cópia do original, a realidade da ilusão, por outro lado, ela implica a redução do simulacro ao clichê (puro jogo de imagem em que o simulacro se fecha sobre si mesmo)."

p. 21 a 22
"a criação, trabalhada por uma diferença sempre já programada e calculada, tornar-se puro jogo comunicacional, interativo e lúdico; e o criador, unicamente usuário".

p. 22
"por que não afirmar que a dita era do simulacro teria início não com as novas tecnologias da imagem, mas sim com a separação entre natureza e cultura, separação esta vivida pelo homem com a introdução da linguagem?"

p. 24
"O virtual não se opõe ao real, mas sim aos ideais de verdade que são a mais pura ficção."

p. 24 a 25
"O novo significa a emergência da imaginação no mundo da razão, e conseqüentemente num mundo que se libertou dos modelos disciplinares da verdade. Tanto na filosofia como na ciência e na arte, o tempo é o operador que põe em crise a verdade e o mundo, a significação e a comunicação. A razão é muito simples: ao tempo da verdade (verdades eternas) se substitui a verdade do tempo como produção de simulacros, ou seja, do novo como processo. "Ou o tempo é invenção, ou ele não é nada", diz Bergson, para quem o passado é o elemento ontológico do tempo, e, como tal, é virtual, ou seja, ele não se confunde com nenhum atual (presente). Trata-se de um passado que nunca foi presente, como no caso da paramnésia. A paramnésia é positiva, pois ela indica que o tempo não pára, ou melhor, que ele não pára de se desdobrar, passando por passados não necessariamente verdadeiros (eu te encontrei ano passado em Marienbad) e por presentes incompossíveis (encontrou-me e não me encontrou ao mesmo tempo — tudo depende do meu desejo de me deixar seduzir)."

p. 25
"o virtual é uma imagem em espelho que forma um curto circuito com a imagem atual, sem que se possa dizer qual das duas é a verdadeira: eu já vivi este momento antes? Sim, mas em um tempo sempre por vir."
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"Se tudo nos parece uma ficção, uma ficção de ficção, se tudo parece conspirar para uma desmaterialização do mundo, se temos dificuldades em viver a história, é porque tudo parece já ter sido programado, preestabelecido, construído, calculado de forma a nos tirar o poder de fabulação."
/
"a idéia do fim da ilusão também não é uma ilusão?"

p. 25 a 26
"A ilusão está em todo lugar: seja como ideal de verdade (das velhas ou das novas tecnologias, quando elas se afirmam como técnicas-ontoteleológicas), seja como fim da ilusão (simulacros despotencializados), seja como potência de fabulação (vontade de potência). Só nos resta escolher como nos colocarmos."

p. 26
"Para os artistas, filósofos e cientistas o que conta, em qualquer época, é a emergência da imaginação num mundo dominado pela razão, qualquer que seja ela, científica, tecnológica, social, econômica, etc. O campo científico, tecnológico, social e econômico não é apenas domínio da razão, mas também espaços de produção e de agenciamentos múltiplos, capazes de liberar as forças da imaginação e da vida."

p. 27
"o que é uma imagem finalmente? Existem pelo menos dois tipos de imagem: a imagem enquanto picture e um outro tipo de imagem que vem da Bíblia e de certas tradições exotéricas que nós não conhecemos muito bem, como a Cabala. São João, na Bíblia, diz que a imagem virá no tempo da ressurreição. Quer dizer, Jesus na cruz não é uma imagem, mas picture..."

p. 28
"Como a câmera escura para a sociedade do espetáculo, o panóptico para a sociedade disciplinar e a televisão para a sociedade pós-industrial, a realidade virtual é o dispositivo que melhor representa o papel das novas tecnologias da imagem na sociedade contemporânea. A realidade virtual é uma espécie de princípio de realidade dos novos tempos, buraco negro da nova cultura cibernética para onde estaria migrando toda a realidade social."









Elaborado por Eduardo Loureiro Jr. em novembro de 2000

http://www.patio.com.br/labirinto

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